Na continuação da análise aos Transportes Públicos, em que
a principal visada é a CARRIS, e depois da análise genérica
feita no Post anterior, hoje vamos analisar a primeira desculpa
que nos deram, e que fez com que os transportes públicos
funcionem mal.
A partir desta desculpa, foi um ver se te avias, rumo à parte
mais profunda do "Oceano do mal servir e do desrespeito".
Passagem de uma equipa de
transportes para Agente único.
Tudo começou com a aniquilação da função de
“pica” (cobrador),
e se passou a Agente único, leia-se, o motorista faz tudo,
ou seja conduz, cobra bilhetes, faz trocos, fala ao rádio com a
central, etc…
Queremos aqui, fazer uma nota: Relembramos que o
Código da Estrada, especifica que falar ao telemóvel
é proibido,
e tudo o que possa causar distracção da condução também.
Apesar do que diz no Código da Estrada, à CARRIS tudo é
permitido, desde impor
aos Motoristas que além de conduzir,
também têm de cobrar bilhetes, fazer os
trocos, ou seja,
executarem actos tão perigosos como estarem ao telemóvel.
Acresce, que esta imposição da empresa causam mais atrasos
no cumprimento de horário das carreiras, além de que,
ninguém
consegue fazer tudo bem ao mesmo tempo.
O facto de ter sido implementada esta medida,
implicou o
despedimento ou a não contratação de centenas de pessoas
para as
funções.
Esta foi a primeira medida da CARRIS
(a
primeira de muitas erradas),
que contribuiu para o degradar da oferta do
serviço de
transportes públicos.
Esta medida foi agravada com o seguinte: Se a CARRIS
tivesse unicamente acabado com os “picas” e, devido a
este corte, lhes tivesse dado formação e os tivesse
convertido em motoristas ou recolocados noutras
funções relevantes, ainda compreendíamos.
Mas não. Não foi isso que foi feito, e a falta de motoristas
neste momento é evidente,
sente-se e tem impacto negativo
na oferta regular e pontual dos serviços da
CARRIS.
Uma média de 25 minutos de espera, às vezes 40, para chegar
muitas vezes um autocarro, que só vai até meio da carreira
(ou seja não faz a carreira completa), é algo que é
intolerável, mais ainda quando essa empresa é certificada
(leia-se tem de cumprir critérios de qualidade e
satisfação do serviço).
Depois tudo vai servir de desculpa para um mau serviço,
é uma pescadinha de rabo na boca, pois não existem
mais autocarros porque não existem motoristas, não têm
mais motoristas porque o governo não deixa fazer mais despesa,
e formar um motorista leva 6 meses, logo não há mais
autocarros mais vezes e a mais horas prolongadas no tempo.
O que é que se ganhou com esta medida?
Nada, a não
ser mais desemprego, e uma pior oferta de transportes,
já que cortaram não só nos "Picas" mas também
nos motoristas,
e como sempre “quem se lixa é o mexilhão”.
Esta foi a primeira medida/mentira que a CARRIS
(e não só) tomou e foi a partir daqui que
começaram a prejudicar os utentes.
A Brigada acha que os operadores dos
transportes andam desencontrados
com a realidade.
Lá Em Baixo
Sérgio Godinho
Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão noite
há quem tema a madrugada
e no escuro se afoite
há quem durma tão cansado
nem um beijo os estremece
de manhã acordarão
para o que não lhes apetece
e há quem imite os lobos
embora imitando gente
há quem lute e ao lutar
veja o mundo a andar para a frente
E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
Lá em baixo ainda anda gente
apesar de ser tão tarde
há quem cresça no escuro
e do dia se resguarde
há quem corra sem ter braços
para os braços que os aceitam
e seus braços juntos crescem
e entrelaçados se deitam
e a manhã traz outros braços
também juntos de outra forma
de quem luta e ao lutar
a si mesmo se transforma
E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
Lá em baixo ainda há quem passe
e um sonho que anda à solta
vem bater à minha porta
diz a senha da revolta
vou plantá-lo e pô-lo ao sol
até que se recomponha
é um sonho que acordado
vale bem quem ele sonha
lá em baixo, até já disse
que é que tem a ver comigo
e no entanto sobressalto
se me batem ao postigo
E tu Maria diz-me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
Lá em baixo ainda anda gente
e uma cara desconhecida
vai abrindo no escuro
uma luz como uma ferida
como a luz que corre atrás
da corrida de um cometa
e vejo vales e valados
no sopé duma valeta
lá em baixo ainda anda gente
e uma cara conhecida
vai ateando noite fora
um incêndio na avenida
És tu Maria, eu sei, já sei, és tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera do comboio
na paragem do autocarro
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